O noivado do sepulcro
Balada
Vai alta a lua! Na mansão da morte
Já meia-noite com vagar soou;
Que paz tranquila! Dos vaivéns da sorte
Só tem descanso quem ali baixou.
Que paz tranquila!... Mas eis longe, ao longe
Funéra campa com fragor rangeu;
Branco fantasma, semelhante a um monge,
Dentre os sepulcros a cabeça ergueu.
Ergueu-se, ergueu-se!... Na amplidão celeste
Campeia a luz com sinistra luz;
O vento geme no feral cipreste,
O mocho pia na marmórea cruz.
Ergueu-se, ergueu-se!... Com sombrio espanto
Olhou em roda... não achou ninguém...
Por entre os campos, arrastando o manto,
Com lentos passos caminhou além.
Chegando perto duma cruz alçada,
Que, entre os ciprestes, alvejava ao fim,
Parou, sentou-se e, com voz magoada,
Os ecos tristes acordou assim:
"Mulher formosa, que adorei na vida,
E que na tumba não cessei de amar,
Porque atraiçoas, desleal, mentida,
O amor eterno que te ouvi jurar?
Nenhum comentário:
Postar um comentário