terça-feira, 23 de novembro de 2010

Poema de Soares de Passos (1826-1860)

  O noivado do sepulcro

 Balada

 Vai alta a lua! Na mansão da morte
 Já meia-noite com vagar soou;
 Que paz tranquila! Dos vaivéns da sorte
  Só tem descanso quem ali baixou.

 Que paz tranquila!... Mas eis longe, ao longe
  Funéra campa com fragor rangeu;
  Branco fantasma, semelhante a um monge,
  Dentre os sepulcros a cabeça ergueu.

  Ergueu-se, ergueu-se!... Na amplidão celeste
  Campeia a luz com sinistra luz;
  O vento geme no feral cipreste,
  O mocho pia na marmórea cruz.

  Ergueu-se, ergueu-se!... Com sombrio espanto
  Olhou em roda... não achou ninguém...
  Por entre os campos, arrastando o manto,
  Com lentos passos caminhou além.

  Chegando perto duma cruz alçada,
  Que, entre os ciprestes, alvejava ao fim,
  Parou, sentou-se e, com voz magoada,
  Os ecos tristes acordou assim:

  "Mulher formosa, que adorei na vida,
    E que na tumba não cessei de amar,
    Porque atraiçoas, desleal, mentida,
    O amor eterno que te ouvi jurar?

  









  

Nenhum comentário:

Postar um comentário